Gustavo de Camargo, Sales Director da VU Security

Nas últimas décadas a transformação digital modificou a economia global radicalmente. Por aqui no Brasil, no primeiro ano de pandemia, o governo se deparou com um desafio nunca visto antes: como aproveitar os avanços tecnológicos para melhor atender aos cidadãos num período de distanciamento social?

O auxílio emergencial deveria chegar aos trabalhadores informais que realmente necessitavam e a partir disso, dada a urgência que o momento exigia, começou uma operação de guerra em busca de informações em diversos órgãos públicos. Foi aí que as áreas de tecnologia do governo levantaram bases de dados e cruzaram milhões de cadastros.

A tecnologia é uma aliada essencial para os governos serem mais eficientes, com oportunidades múltiplas e exponenciais. Por exemplo, os aposentados e pensionistas do INSS precisavam provar todos os anos, e de maneira presencial, que estavam vivos para continuar recebendo seus rendimentos.

Desde 2019 já se falava em modernizar a prova de vida, por meio do uso de um aplicativo, biometria facial ou outra ferramenta digital que simplificasse o processo.

Com o surgimento da pandemia do Covid-19, a modernização se mostrou ainda mais urgente, principalmente por envolver pessoas dos grupos de risco. Finalmente, no início deste ano, o sistema passou a permitir a prova de vida com uma simples selfie. Felizmente essas tendências digitais já existem e podem ser realizadas de maneira segura, fácil e acessível até para quem ainda não possui muita familiaridade com os meios tecnológicos.

Quem já precisou dar entrada no FGTS com certeza vai lembrar da quantidade de papel e horas gastas na Caixa Econômica Federal para garantir o benefício. Isso porque era necessário ir até uma agência e contar com a ajuda dos funcionários para que o dinheiro fosse liberado. Desde de 2020, essa dinâmica também mudou.

Agora, basta ter um celular com conexão à internet para que o saque seja solicitado integralmente pelo app do FGTS. O trabalhador pode indicar uma conta de qualquer instituição financeira para receber os valores, sem nenhum custo, com o depósito disponível em até cinco dias úteis. Otimização de tempo e recurso para todos os envolvidos.

Os exemplos acima mostram como o investimento e o desenvolvimento de novas tecnologias é cada vez mais necessário para a desburocratização dos serviços públicos. Podemos dizer que um produto ou serviço eficiente e de qualidade é aquele que atende, de forma confiável, acessível, segura e previsível, as necessidades dos cidadãos.

A burocracia, aliás, é um dos fatores que levam à falta de competitividade do País diante do mercado internacional.

Está claro que, para alcançar a desburocratização e eficiência, é fundamental modernizar e inovar os serviços públicos, com a implementação de novas tecnologias e ainda novos modelos de gestão. Para isso, como citado acima, existem inúmeras experiências bem sucedidas no setor público e iniciativa privada que podem servir de referência.

Em paralelo a essa construção de cultura de investimentos em novas tecnologias, é necessário avançar no desenvolvimento de práticas cada vez mais mais sólidas e inovadoras de cibersegurança.

Essa prática protege computadores, servidores, dispositivos móveis, sistemas eletrônicos, redes e dados contra ataques cibernéticos, tentativa de desabilitar, roubar ou violar sistemas digitais.

Acontece que não existem políticas uniformes a todas as áreas de intervenção, sendo que cada problema exige uma ponderação e resolução específica tendo em conta inúmeros fatores.

Atualmente, a cibersegurança é uma das principais preocupações de governos e empresas do mundo todo, que investem cada vez mais na digitalização de seus produtos, serviços e processos. Aliás, são milhões de reais movimentados todos os dias entre aplicativos de bancos, investimentos, entre outros, e manter essas transações seguras é uma tarefa árdua.

No entanto, aqui no Brasil ainda se investe muito pouco em cibersegurança. Um exemplo claro disso é o valor destinado pelo governo, informado no Orçamento da União, para a implantação de sistemas de defesa cibernética. Para se ter uma ideia, o Brasil figura no 18º lugar no relatório do Índice Global de Segurança Cibernética apresentado no ano passado.

Com mais de 200 milhões de habitantes e uma infraestrutura governamental de segurança de dados que deixa a desejar, o país virou presa fácil para ataques virtuais devido a brechas de segurança nos sistemas.

Segundo relatório da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, em 2019 foram investidos R$ 15 milhões em segurança da informação. Já em 2021, ano marcado por incidentes como o apagão dos comprovantes de vacinas do Conecta SUS, o investimento foi de apenas R$ 7 milhões.

Uma auditoria feita no final de 2021 pelo Tribunal de Contas da União indicou que 74% dos órgãos da Administração Pública Federal não contam com políticas de backup. O documento apontou também que 66% desses órgãos não fazem uso de criptografia para aumentar a segurança do armazenamento dos dados.

Incidentes no governo também podem surgir de falhas atribuídas a uma pessoa que descuidou das proteções devidas ou simplesmente permitiu que alguém usasse suas credenciais

Nesses casos, fica claro que de nada adianta ter uma tecnologia de ponta se o ponto frágil da cadeia de segurança for justamente a responsável pela operação. Investir em tecnologia também significa investir em quem manuseia ela.

Muito já se fala sobre a quarta revolução industrial, que, de acordo com alguns especialistas, já está sendo vivida por meio de computadores, smartphones, passando pelas informações na nuvem e bitcoins.

Através do desenvolvimento e aprimoramento de produtos, serviços e processos atrelados a essas novas tecnologias, é possível aproximar o governo e o cidadão permitindo que políticas públicas cheguem a quem mais precisa em todos os cantos do Brasil. Por isso é importante que investimentos aconteçam e as pessoas sejam capacitadas em temas de segurança da informação.

*Artigo escrito por Gustavo de Camargo, Sales Director da VU Security

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