Desde que me formei em Ciência da Computação, o que mais ouço é: como é ser mulher e atuar com tecnologia e ainda mais — dentro do setor automotivo — ao lado de um público majoritariamente masculino?
A resposta é simples, acredito tanto na minha força e em minha capacidade como profissional que essa questão de gênero se contrapõe.
Embora eu tenha presenciado a realidade que é optar por um curso na faculdade em que os homens se destacam por sua grande maioria, afinal, minha sala de aula era composta por 40 alunos onde apenas oito eram mulheres, ainda acredito na hipótese de que a área escolhida pelas pessoas vai (e precisa ir) além dos estereótipos e questões culturais.
Em linhas gerais, o ingrediente principal para o sucesso, independentemente de ser mulher ou homem, é se destacar no mercado escolhido, desde que haja dedicação e um ambiente que promova igualdade entre os gêneros.
O fato é que a sociedade – de hoje e de antigamente – ainda condiciona mulheres a terem inseguranças e questionamentos diante de situações diárias de sua vida pessoal e profissional, mas desde que entrei para o universo da tecnologia, consigo perceber que é nítido o quanto é possível contribuirmos para a criação de soluções tecnológicas, independente se a escolha é ser web designer ou estar ocupando um cargo de front-end ou back-end.
A evolução das mulheres na tecnologia tem avançado consideravelmente, contudo é preciso levarmos em conta que ainda é necessário quebrar paradigmas e naturalizar a presença feminina em qualquer cargo que ela deseja ocupar.
Segundo dados de uma pesquisa da National Science Foundation, agência governamental dos Estados Unidos, o número de mulheres que estão considerando seguir uma carreira na área de tech aumentou, porém ainda existe uma lacuna no quesito volume de oportunidades, já que apenas 38% das formandas estão atuando no campo e os homens seguem com 53%.
Acredito que esse número só irá mudar quando o mindset da empresa mudar, desde o recrutamento a dia a dia, a empresa precisa começar a pensar em diversidade e se preparar para ela, se ela prezar por experiência sempre vai contratar homens héteros brancos, pois historicamente foram eles os acolhidos pelo mercado, se pensar em diversidade e priorizar contratação de pessoas diversas, a empresa irá contribuir para o aumento de pessoas de outros “grupos” no mercado e principalmente que elas desenvolvam experiência.
Não é uma decisão fácil, pois tendemos a buscar os ganhos imediatos de ter uma pessoa experiente no time, mas o que eu venho aprendendo é que, não adianta sacrificar o médio longo prazo pelo curto prazo, um time diverso tem maior poder, e ter pessoas que não tiveram a oportunidade de terem oportunidades vem com um peso maior da gratidão, e serão missionários e não mercenários.
Mas, mesmo que o número de mulheres que optam pela área ainda seja menor que o dos homens, o protagonismo feminino vem ganhando espaço na área de TI.
Ainda precisamos evoluir muito quando o assunto é mulheres que representam a tecnologia e, infelizmente ainda não temos um histórico tão extenso de personalidades que atuaram na área, mas nomes como Ada Byron, responsável pela primeira descrição de um algoritmo destinado ao processamento em um computador e Grace Murray Hopper, cientista da computação da Marinha dos EUA que popularizou linguagens de programação, fizeram a diferença na história da tecnologia.
Sem contar que antigamente, analistas de software eram uma função tecnicamente feminina, quantas fotos temos de mulheres operando máquinas gigantescas, as “telefonistas”, filmes como Estrelas, além do tempo trazer essa temática de mulheres influenciando na ciência, na tecnologia.
Quando essa função se tornou “cara”, começou a ser assumida por homens, enquanto foi “inferior” eram assumidas pelas mulheres.
Não há como negar que mulheres que atuam hoje na área servirão de inspiração para pessoas que, no futuro, querem fazer parte deste legado. Mas, antes, temos a missão de desmistificar a presença da mulher na tecnologia e entender que ela tem voz, sabedoria e know how para falar sobre qualquer assunto. Então, não me chamem para falar da mulher na tecnologia, ela já está inserida nesse ambiente e fazendo história por onde passa.
*artigo escrito por Isaiane de Mendonça é fundadora da AutoForce, martech que desenvolve tecnologias e soluções de marketing digital para o segmento automotivo e que está entre os destaques com o selo Great Place To Work (GPTW). Formada em Ciência da Computação pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), começou sua carreira profissional como designer na ArtKamizetas e, posteriormente, se transferiu para Aragão Publicidade, onde atuou como Web Designer e Front-end. Em 2015, ao lado de Clênio Luiz e Tiago Fernandes, fundou a AutoForce, primeira plataforma de marketing digital com foco no mercado automotivo. Na martech, ela é responsável pelo time de desenvolvimento e produto ao lado do sócio Emanuel Campos.
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